quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Lamento do pintassilgo

Lamento do pintassilgo


Quando chegou meio dia
Vim pra casa almoçar
Após trabalhar na roça
No meu querido lugar
Enchi logo minha pança
E na rede fui deitar

Deitado lá no alpendre
Comecei a cochilar
O vento leve soprando
A rede a balançar
Um pintassilgo pousou
Em um pé de trapiá

Ele disse em voz chorosa
Sua triste lamentação
Contou-me sua história
Despertou-me comoção
Me disse: caro amigo
Preste muita atenção

Eu vinha pra minha casa
Que fiz com muito carinho
Trabalhei de dia a noite
Construindo o meu ninho
Com garrancho eu construí
Um lugar pros filhotinhos



Carreguei muito garrancho
Barro pra calafetar
Procurei uma bela árvore
Para a obra começar
Depois de tudo montado
Vi o homem derrubar

Nesta hora o pintassilgo
Pousou pertinho de mim
Disse: escute amigo
Veja que coisa ruim
Causada por sua espécie
Que mata a minha enfim

Estava eu em meu ninho
Terminando a engenharia
Ouvi um tiro no mato
Começou a correria
Chamei mamãe não ouvi
O grito de onde vinha

Quando chegou de meu lado
A mamãe ensanguentada
Eu fiquei desesperado
Mas não pude fazer nada
Ela caiu em meus braços
Com a asa esbagaçada


Neste momento eu senti
Meu sonho desmoronar
Mamãe morreu em meus braços
No aconchego de seu lar
O tiro lhe atingiu
Não tive como evitar

Pra aumentar minha tristeza
Prenderam o meu irmão
Numa gaiola pequena
Sem a menor condição
Derrubaram nossa casa
Só por pura diversão

De longe fiquei olhando
Papai em um alçapão
Dentro de um viajante
Estava o meu irmão
Mamãe morta e papai preso
Foi esta minha visão

Mamãe morta ao meu lado
Caída ali no chão
Eu sem puder fazer nada
Pousado em um pendão
Vítima de uma arma
De um ser sem coração



O meu pai e o meu mano
Ali aprisionados
Nossos planos ali foram
Na hora dilacerados
Pelo egoísmo humano
por seus males praticados


Agora sigo sozinho
Com dor e desolação
Já construí outra casa
Mas queria meu irmão
Junto a meu pai querido
Para completar a união

Neste momento eu senti
U’aperto no coração
Uma angustia na alma
Foi grande a emoção
Chorei feito uma criança
Com sua declaração


Ele então continuou
Falando toda a verdade
Eu chorando escutando
Tamanha barbaridade
E vendo que pratiquei
Também esta crueldade



Eu perguntei: pintassilgo
Onde ficava o seu ninho
No umbuzeiro amigo
Lá na beira do caminho
Lá morava com mamãe
Papai e um irmãozinho


Senti o peso da culpa
Pesar em meu coração
Lembrei que aquela arma
Estava em minha mão
E naquele umbuzeiro
Armei aquele alçapão

Tava caçando préa
Naquela ocasião
Atirei na avizinha
Pra testar a munição
Fiquei ainda zangado
Por que pegou de raspão


O filho do pintassilgo
Eu trouxe para criar
Também trouxe o seu pai
Pra na gaiola cantar
Apertada e sem conforto
Para faze-lo amansar


Derrubei o umbuzeiro
Para lenha então fazer
Uma parte para casa
E outra para vender
No lugar daquela planta
Deixei a grama crescer

Eu disse: ó pintassilgo
Me conceda seu perdão
Eu matei a sua mãe
Prendi seu pai e irmão
Derrubei sua morada
Naquela ocasião

Pintassilgo disse: assim
Você esta perdoado
Agora solte meu mano
E o meu papai tão amado
Pois papai agora esta
Triste e aprisionado

Eu então lhe perguntei
Já perdido no meu tino
Pintassilgo o que te dói
No seguir de seu destino
Despertei da rede e vi
Q’eu estava era dormindo



Procurei o pintassilgo
Que estava do meu lado
Não vi aquele bichinho
Fiquei na rede sentado
Foi então que percebi
Que eu tinha era sonhado

Levantei pra trabalhar
Nem se quer pestanejei
Fui direto a cozinha
E a gaiola peguei
Levei para o roçado
E os bichinhos soltei

Na gaiola apertada
Ele ali descontente
Não sabia da surpresa
Que estava a sua frente
Ganhariam a liberdade
Para viverem descente


Quando a porta foi aberta
Deram um vôo rasante
Do outro lado escutei
Um canto extravagante
Os bichinhos se encontraram
Numa tarde emocionante


Todos três em uma cerca
Começaram a cantar
Naquela felicidade
Naquele belo lugar
Não contive a emoção
E comecei a chorar

No lugar que devastei
Plantei outro umbuzeiro
Quebrei todas as gaiolas
E queimei muito ligeiro
Não quero manter de novo
Uma ave em cativeiro


Pois toda ave nasceu
Para ter a liberdade
Viver livres pelo campo
Em toda localidade
Quem maltrata a natureza
Traz consigo a maldade



A você que é criador
Faça uso da razão
Não prenda um inocente
Só por pura diversão
As aves devem ser livres
Pra voarem na imensidão



Isto foi uma história
Fruto da imaginação
Mas o fato é real
Desta tal devastação
Pois o meio ambiente
Precisa de proteção. 

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