sexta-feira, 14 de março de 2014

No dia a dia a tradição e a vida no sertão

 Foto captada da internet

 Foto de meu arquivo



No dia a dia a tradição
E a vida do sertão



O cachorro quando uiva
Esta dando seu sinal
O preá na macambira
Se esconde afinal
Fugindo do predador
Que lhe caça onde for
Neste ciclo natural

Na lavoura põem veneno
Para as pragas matar
Esperando um bom tempo
Para a lavoura lucrar
Se tem chuva tem fartura
Pois toda agricultura
A água faz verdejar

Num raiar de um poema
O vaqueiro se levanta
Toma logo seu café
Pega a sela e a manta
Monta no seu alazão
Aboiando no sertão
Volta na hora da janta

O cantar do acauã
Bem pertinho do seu ninho
Na sombra do umbuzeiro
Cuidando do filhotinho
O sol quente a brilhar
Fazendo a goela secar
Clama por água o bichinho

Eu na lavoura da mente
Seu sentimento plantei
O amor pelo sertão
E muito me contentei
Vencendo dificuldades
E matando as saudades
No alpendre mentalizei




O aveloz ressequido
Como a minha solidão
O pintinho se esconde
Do bote do gavião
O seu grande predador
Gía foge do calor
Mergulha no cacimbão

No sertão tem harmonia
Como nota musical
Tem decência e respeito
E um clima fraternal
Tem brio e poesia
Lá nasceu a cantoria
De Pinto e Lourival

Bezerro poja no peito
De manhã fica a urrar
Quando o vaqueiro o afasta
Para a vaca ordenhar
Depois leva pro curral
Forrageira mel e sal
Solta o gado pra pastar

Na hora do sol poente
Fica um belo dourado
Depois muda pro laranja
Vem o arrebol esperado
Abraçando com a lua
Pois a noite agora é sua
Como um peixe fisgado

O sertão tem muitas cores
E muita variação
O verde claro na chuva
A seca peca pelo verão
Com inverno tem fartura
Dar trovão sai tanajura
No campo a floração

Umburana bem frondosa
Com uma bela estrutura
A sua madeira nobre
Serve pra xilogravura
Já esta em extinção
Precisa de proteção
Para a geração futura


O Aticum quando flora
Um forte aroma tem
Atraindo as abelhas
Pra polinizar também
Seu nécta vem recolher
Para o seu mal fazer
A natureza provém

Quem derruba uma planta
E causa devastação
Fere a mãe natureza
Com tamanha agressão
Tira a sua alegria
É contra ecologia
Para Deus, má ambição

Um jumento no barreiro
Busca água pra beber
Depois anda pelo pasto
Para o capim comer
Quando há seca no verão
Do milho come o cambão
Tentando sobreviver

Jataí sabe a hora
Certa para trabalhar
Tira o nécta da flor
Na hora que ela florar
Do pólen faz a geléia
Alimenta a coméia
Depois de polinizar

Corre entre a catingueira
O vaqueiro destemido
Correndo atrás da rês
Roupa de couro vestido
Luva calça e gibão
Este herói do sertão
Tão guerreiro e tão sofrido

A cabra fica na sombra
E o cabrito a mamar
No galho de um Angico
Patativa a cantar
Galo canta no poleiro
O capote no terreiro
Diz “tou fraco” sem parar


Tem xêxo de fazer queijo
Caco de torrar café
Padre Ciço na parede
Provando a sua fé
Cuscuz de milho ralado
Queijo, fava, bode assado
E água n’ma coité

Na noite de lua cheia
Quando é tempo de verão
Meninos brincam de roda
É grande a animação
Naquela brisa fagueira
Cantando “mulé rendeira”
Dizendo adivinhação

Não noites de São João
O povo acende a fogueira
Com foguete e bacamarte
É tradição verdadeira
Na casa da devoção
Reza terço e oração
Faz novena a rezadeira

Assa milho na fogueira
Fazem logo a canjica
O bolo pé de moleque
Que muito gostoso fica
Na folha o manoê
Em toda casa se vê
A alegria que fica

Agulha no prato d’água
Se ela não afundar
Diz que ano seguinte
A quem ela colocar
Verá o próximo São João
Vivo com animação
De novo vai festejar

Se cravar na bananeira
A faca virgem de mesa
Tira na manhã seguinte
Sem falar isto é certeza
Na faca o nome escrito
Com quem casará é dito
Para  a solteira é proeza

O sertão e seus encantos
E suas dificuldades
Suas lendas e histórias
E biodiversidades
E rica gastronomia
O sertão tem poesia
E muitas variedades

Eu vivi em Orobó
Pois sou filho do sertão
Numa casa bem singela
Fica no sítio Varjão
Eu rumei para cidade
Mas é grande a saúde
De voltar pro meu torrão.

Autor: Esperantivo



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